Arquitetura Afetiva

Construindo Memórias Extraordinárias

Manuela Dal Pizzol

4/22/20243 min read

Feche os olhos e imagine-se na primeira casa onde morou na infância. Conseguiu imaginar? Deve vir um turbilhão de coisas a cabeça! Se esforce um pouco mais e tente focalizar nos detalhes: quem sabe você começou lembrando de uma grande árvore de frutas como uma jabuticabeira, ou um pé de amora – caso tenha sido o último, você se lembra também das mãos e bocas completamente roxas?

Pode ser que o seu primeiro pensamento não tenha sido das árvores ou de correr por um belo gramado, talvez você tenha tido a sorte de estar em uma casa com piso de taco, que dispensava qualquer chinelo, pois eles esquentavam muito mais do que os pés, acalentavam o coração. Se você resgatar algumas lembranças, pode ser que quase escute a sua mãe dizer: “põeeeeee o chinelooooooooo!!!”

Agora entre um pouco mais para dentro dos seus pensamentos e da sua casa, cada passo a mais é um detalhe que parece contar uma história, evocando emoções e memórias. A cozinha é um prato cheio para isso, a lembrança da mesa posta, com todos os lugares ocupados e o cheirinho da comida da avó, é algo inigualável não é mesmo?

Aí está o poder da arquitetura afetiva, no resgate destas histórias contadas por novos ambientes desenvolvidos. Através do acesso a algumas memórias - é possível ter uma abordagem que vai muito além do imaginário, unem-se as raízes, a hereditariedade, a estética, a funcionalidade, junto a ideias contemporâneas. A partir disto formamos ambientes espetaculares que tocam a alma e formam vínculos ainda mais sólidos para quem tem o prazer de se deparar com um projeto realizado dentro deste método.

O resgate ao vínculo emocional entre as pessoas e os espaços que habitam, vem em contraponto a velocidade que o mundo exige de resposta e da superficialidade das novas relações, onde tudo parece ser descartável após o uso. Na arquitetura afetiva todas as vozes são ouvidas, todas as experiências são importantes e os ambientes são criados a partir de quem são os indivíduos em essência, do que eles valorizam e pensam ser indispensáveis.

Além do olhar voltado para o passado (mas com foco no presente), algumas outras características são muito fortes dentro deste método de criação, como a utilização de peças atemporais, reinventadas e ressignificadas, a exaltação da natureza, a conexão com sagrado e entre os seres humanos.

Com isso, hoje já se sabe através de estudos, que viver em espaços que refletem nossa identidade e valores pode ter um efeito profundo em nosso bem-estar emocional e mental, aumentando nossa felicidade e satisfação com a vida. Sendo assim, a medida que olhamos para o futuro, é importante lembrar que a arquitetura afetiva não é apenas uma abordagem estética, mas sim uma filosofia de vida que valoriza o que é verdadeiramente importante ao criar espaços que inspiram, conectam e que constroem memórias que durem para sempre.